segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Na Conta da Severina


O cara estava vidrado numa linda mulher que acabara de chegar ao bar.
E dava para ver detalhes, afinal era começinho de noite de verão com céu ainda claro e o Bar do Bardo é muito bem iluminado.
Coçava a orelha, apontava o celular na direção das pernas torneadas da dita cuja num disfarce perfeito, ninguém notava enquanto ele fingia que lia recados ou procurava algum número. O sujeito na maior cara de pau não dava pinta de modo algum. Ao seu lado, na mesma mesa, homens e mulheres num papo animadíssimo e ele totalmente em outro mundo, cara grudada no telefone, mas os olhos percorrendo da ponta do dedão do pé até a bainha da mini-saia.
Ela trajava uma micro saia jeans e uma sandália de salto médio daquelas com duas tiras feito as havaianas. E para piorar a situação toda vez que se esticava para pegar alguma coisa no balcão, ficava na ponta dos pés expondo solas limpinhas como se tivesse saindo do banho. A saia subia junto com a flexão dos pés e com um pouco de esforço dava até pra ver a cor da calcinha...
Impossível não perceber e como barata não desce escada de salto alto, aquela bela mulher já tinha notado que o cara não lhe tirava os olhos.
De repente alguém do grupo onde ela estava levantou e ela sentou naquele banco alto de balcão bem na frente do cidadão. Maldade pura. Dava pra ver o sadismo em seus atos...
Daí ele perdeu a linha e o disfarce foi pro espaço. Ajeitou-se na cadeira e grudou no vácuo da mulher que conversava com os amigos e matava o infeliz aos poucos com cruzadas de pernas de quebrar vidraça.
Claro que se eu estava percebendo e ela vigiava seu olhar, seus amigos e amigas aos poucos foram notando as atitudes do cara que fitava a bela morena clara como se fosse um filme no epilogo. Chamado às falas pelas pessoas de sua mesa, deu com os ombros e fez-se desligado com a cabeça em outro lugar, só que este local estava a apenas uns seis metros diante do seu nariz e sem se dar conta estava dando bandeira.
É bom que se diga que afastar um fetichista de sua imagem favorita é um problema dos mais sérios, e quanto mais ele se apaixona pela visão fica mais difícil quebrar o “vinculo”. O descontrole é quase certo se o cenário for aquilo que o fetichista anseia e mesmo sem saber se há reciprocidade ou não, absorve na mente cada momento que ficou diante da cena.
E o Bar do Bardo ficou pequeno pra tanta “emoção” e lá pelas tantas o sujeito nem se importava com nada só com aquelas pernas cada vez mais indecentes e descontraídas.
Mas a garota era mesmo de parar o transito. Dirão as más línguas que o cabelo era assim ou assado, que os olhos não eram lá essas coisas, mas as pernas pareciam sido esculpidas por uma artista em sua mais profunda inspiração.

Como um pernólatra assumido confesso que olhei também, não com a mesma volúpia do meu concorrente, mas guardando o mesmo desejo. E era bacana ver a disposição do rival com os olhos colados naquelas pernas e pés vociferando os piores palavrões para seu subconsciente quando alguém cruzava seu campo de visão e dava também pra notar a cara de poucos amigos nessas horas.
Nessa altura do campeonato acho que dava mais importância a reação do sedento fetichista que para aquelas pernas perfeitas. Era visível a insatisfação dos seus amigos diante dos fatos.
Só desliguei quando me cutucaram para me chamar a atenção por estar tão distante de tudo como aquele sujeito. Aí me dei conta que tinha que mudar de estação para entrar em sintonia com o que estava ao meu redor.
Ver uma expressão fetichista sempre me tira do sério. Gosto de analisar comportamentos e comprovar a felicidade que o cara exibia diante de uma imagem perfeita. Mas imaginem se ele pudesse tocá-la o quanto lhe faria ainda mais feliz? Quem sabe é melhor nem imaginar porque daria uma dor de corno de doer...
Sei que era hora de ir embora e pagar a conta, por isso fiquei com ódio da pobre da Severina que melou a noitada da galera porque queria ir cedo pra casa.
Essa está literalmente na conta dela...
Pensando bem foi melhor não saber o fim da história para o bem dele e, claro, para minha própria noite de sono.

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