Viver é um ato que precede de escolhas.
O ser humano constrói seu ciclo através do tempo. Algumas
pessoas aparecem e desaparecem com extrema facilidade e outras viram cativas. Nada
disso é novidade e todo mundo com alguma consciência aprendeu durante a própria
existência.
Normalmente o que se espera é que estas pessoas pertençam
a um grupo que aceite as suas escolhas, claro, sempre e quando essas escolhas
sejam apresentadas às pessoas que fazem parte do seu convívio. Mas o fetichista
é retraído quanto a isso. Não raro se vê isolamento.
Mesmo nos dias de hoje com o grande barato que é a
Internet onde tudo é permissivo e quase anônimo, muita gente se mantém no
escuro. Personagens criados a partir de devaneios com o desconhecido criam vida
através de perfis pré-fabricados com a clara intenção de serem úteis.
E nessa onda, toda utilidade é bem vinda.
É como abrir um livro, se embrenhar pelas paginas, criar
uma identificação com tudo que aparece nos capítulos e viver protegido pela estranha
forma incógnita. Sim, porque diante dos amigos, do tal grupo que foi construído
ao longo da existência, certas taras não existem. Dão-se em função desse tipo
de esconderijo, relacionamentos sem sentido e casamentos desfeitos. Tocar na
ferida é chato, mas pior é esconder.
Quem – como eu – não passou por isso levante o dedo e
fique com ele em pé!
Porque é desumano conviver com duas pessoas dentro de nós
mesmos. A velha síndrome do médico e do monstro é cultivada em silencio e
ninguém percebe. Claro que alguns irão dizer que não existe um psicopata
morando com eles, isso é fato, mas há dois caminhos e apenas uma cabeça pra
decidir o destino.
Quando o sujeito traz com ele essa dúvida do berço ainda
consegue ter um pouco mais de habilidade pra tentar levar adiante sua trama.
Ele aprende desde cedo a ter a performance de um equilibrista e se dá bem com o
arame. Entretanto, existem pessoas que por uma razão qualquer se deparam com situações
extremamente atrativas sem dantes perceber, e nesses casos, estabelecer essa
dualidade é bastante complicado.
Toda iniciação ao fetichismo advém de um relato bem feito
ou de um foto bem postada.
Escrevi isso porque ontem alguém me chamou a atenção quando
postei minha cara aqui, com um sorriso de orelha a orelha mostrando os dentes. “Poxa
ACM você ficou mesmo maluco ou está gagá”. Juro que li isso hoje cedo. A essa
altura do campeonato todo mundo que se liga em fetiches nessa terra atrasada e
preconceituosa de nascença está cansado de saber que quem escreve esse blog tem
essa cara feia que fez parte da postagem de ontem. Feia, mas feliz.
Faz alguns anos eu evacuo um quilo exato pra esse papo de
exposição.
Não quero com isso, e sequer pretendo, fazer a cabeça de
todos para seguirem meus passos. Cada qual tem o sagrado direito a escolher o
que bem entende para sua vida. Apenas fiz essa opção e faz tempo, aliás, muito
tempo. E mesmo assim ainda guardo meus monstrinhos por perto, porque nem sempre
se pode exteriorizar aquilo que se pensa.
Faz mais ou menos um ano falei do blog a uma pessoa que
prezo muito, uma amiga, muito religiosa e ela simplesmente me excomungou do seu
rol de amigos. Engraçado que vez por outra ela me acha pela internet e pergunta
se ainda estou escrevendo essas coisas esquisitas.
Vai ver que gostou, mas a demência não deixa que ela
ultrapasse a fronteira que o Pastor impôs. Sempre as escolhas...
Mas se nem tudo são flores ainda restam belos ramos a
serem colhidos por quem curte a vida de forma diferente. Quem quer enxotar de
vez a monotonia de seus dias e evitar o marasmo da mesmice. Se engana quem
pensa que todo fetichista é poligâmico. Isso é uma opção, e a monogamia é muito
bem compreendida por quem consegue encontrar a pessoa certa pra viver os
melhores capítulos de um livro que pode ser escrito a quatro mãos.
O que prova que nem sempre a língua tem um sabor amargo.
Um bom final de semana todos!
Lindo,verdadeiro,transparente! Amotu!
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