quinta-feira, 28 de julho de 2011

As Pulgas


É incrível a atração que o fetiche exerce em quem vive com ele.
O aprendizado é eterno e por mais que alguém afirme do alto de sua experiência que conhece tudo, que já viu ou provou de todas as emoções, tem sempre uma coisa nova batendo na porta.
Nesse oceano de desassossego, os fetichistas embora muito parecidos têm características impares. Enquanto tudo é restrito a papo, palestras ou encontros há muita concordância, mas basta haver conjunção de corpos e desejos que o beato solta fogos.
Nessas horas vale à pena deixar um pouco de lado a lógica em nome da percepção.
A idéia aqui não é colocar apenas uma pulga atrás da orelha dessa gente bronzeada que se esbalda com práticas fetichistas e de BDSM no hemisfério sul. Minha intenção é colocar um cachorro cheio delas atrás da orelha atenta do povo que comunga da mesma corrente de pensamento.
Exemplos não faltam e são fartos. Duas amigas submissas chamadas a uma sessão com um dominador estavam devidamente preparadas para viver o que se espera de um encontro assim. Agonia, desejos e realização. Tudo pronto até descobrirem que o objetivo do dominador era ser humilhado pelas duas moças numa tarde que parecia perfeita.
Prontamente recusaram tal oferta e já que estavam com os hormônios em festa partiram para uma cena lésbica. Melhor gozar entre elas do que com a cara do sujeito que pelo menos deveria ter dito a verdade.
Daqui se resume o seguinte: desejo fetichista ninguém inventa. Ele está inserido no contexto do prazer de quem busca a prática. Infelizmente alguns praticantes faltam com a verdade na hora de abrir o jogo e tudo termina numa grande cagada.
Razão de sobra pra pulga estar bem no cantinho da dobra da orelha.
Por outro lado a pulga pode ter um efeito contrário à desconfiança. A presença do inseto sem asas da ordem siphonaptera no pavilhão auricular estaria mais inclinada à curiosidade do que a qualquer dúvida. Por isso, existem os desencontros. E como seria? Simples, algumas propostas negociadas que terminam em envolvimentos fetichistas acabam por não suprir as necessidades de quem se aventura a ter a relação. Inevitavelmente o tempo e a falta da realização de certos desejos minam o relacionamento e o castelo desmorona.
Mas nem tudo está perdido quando o assunto é a obsessão por fantasias.
Acharam a palavra forte? Obsessão? Mas não é, porque em alguns casos o fetichista assume a tara dentro de si e corre todos os riscos para tirar uma lasca daquilo que ele supõe ser o nirvana. Quebrou a cara? Só resta levantar e partir pra outra recolhendo as lembranças. Alguma coisa boa sempre fica ainda que nem tudo tenha sido o sonhado mar de rosas...
O ideal é ter equilíbrio. Discernir entre os prós e contras e aceitar quando nada sai como planejado. Tudo que é obsessivo é demais.
Nesse meio fetichista conheço muita gente que já pode vivenciar parte desse dilema. O certo e o errado simplesmente passeando a luz de seu pensamento. Gente capaz de conviver com uma incontrolável vontade de experimentar as duas faces da moeda, misturando desejo e apreensão em doses idênticas.

Por uma dessas pessoas eu tenho uma admiração que transborda. Talvez por conta disso tenha decidido dedicar esse artigo de hoje a ela, quem sabe por que ela costuma guardar dois cachorros infestados de pulgas em cada orelha ou simplesmente porque ela jamais se omite quando a ordem é verificar onde está a pedra que risca o chão e dispara a faísca.
Esteja perto ou distante pouco importa. É possível materializar sua veia fetichista através de um simples “affff” ou um longínquo “*pisc”.
Ternurinha, as palavras de hoje são pra você minha grande amiga, por tudo que representou como inspiração para que eu pudesse

desenvolver esse tema. Não tem erro: é a tua imagem e semelhança, ainda que as pulgas atrás de tua orelhinha estejam com os dias contados.

4 comentários:

  1. bom bom...vou respirar para responder isso a contento...rsss
    primeiro...
    apoio totalmente a decisão das meninas, já que a questão era, duas cadelas servindo ao mesmo senhor o que se pressupõe, que algo surja entre os três, como ele se absteve da possibilidade de explorar esse mar de fartura...pena..dançou.

    no mais, entretanto, todavia, creio que as pessoas começam a negociar baseadas no fetiche recorrente " quero minha cadela" e esquecem que nisso tudo está contido algo muito mais forte e mais elaborado do que um simples querer.

    muito mais justo dizer, eu tenho o fetiche de comer morangos dentro da buceta, do que inteirar uma série deles no contexto de uma D/s.

    há de se por muitos cachorros e infestados de pulgas mesmo, em cada um dos ouvidos de cada lado, antes de se estabelecer uma verdadeira D/s.

    ponha mais Nobre ACM....o Senhor PODE...rsss

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  2. Meu querido amigo, meu nobre escritor e meu Mestre bondagista,

    Buscar palavras para lhe agradecer seria algo muito inferior para a gama de emoções que toma esse ser de alma submissa, então vou explanar uma vez mais sobre como esse bichinho do BDSM mexe comigo, para então prontinha me entregar às suas pulgas..*pisc

    Amado meu,

    Há quase cinco anos eu passeio por esse Universo em busca de uma “verdadeira” D/s, aquela repleta de sinceridade, respeito, cumplicidade e afins. E nessa minha excursão, um desejo grita alto e poderoso aqui, o de dividir uma sessão com um Dom e outra sub, ou seria o desejo de me submeter a um Dom e uma Domme, uia....ahhhhh, sem dúvidas muitos desejos, agonias, e realizações eu busco.

    Sempre sempre com muita vontade de aprender, de evoluir, de crescer, porém tudo isso teria que passar pelo crivo sensato da honestidade dos desejos de ambos....afffffff....para certamente a fantasia não acabar desastrosamente.

    Em específico no nosso caso, a falta de tempo, a distância que odeio...arghhhhhhhh, os inúmeros compromissos, foram os grandes vilões pelo fim de nossas idealizações.

    porém, entretanto, contudo, ficou uma carinho e uma amizade que , confessando sem medo, beira a obsessão...uiiiiiuiiiiiii

    E nessa deliciosa obsessão vivo um constante dilema e com uma incontrolável vontade de experimentar muitos desejos ainda, misturando vontades e apreensão em doses idênticas fazendo surgir uma grande faísca....ai meus sais.....

    bjs agradecidos, não menos emocionados, a vc que me conhece tão bem.......*pisc

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  3. Cléo, simplesmente...

    Este simplesmente pode ter vários sentidos e tolo seria de duvidar de sua perspicácia.

    Aliás, foi o que faltou neste imbróglio que serviu de exemplo aqui: sutileza. Pra entender que fetiche não nasce em árvore, e tudo que nos habita pede passagem pra ser devidamente exteriorizado.

    Nós mesmos colocamos as pulgas em nossas orelhas.
    É preciso, faz parte desse planeta fetichista. E quando se decide ser o que se quer esses bichinhos se animam e convivemos com eles de forma pacífica, desde que decidimos ir em frente atrás do que realmente nos interessa.

    Ganhos e perdas são normais. É preciso ter inteligência pra lidar com isso e não deixar que qualquer deslize destrua coisas boas.

    No mais, concordo com tudo.

    Grande Beijo
    ACM :)

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  4. Ternurinha,

    Nada aqui representa outra coisa a não ser a verdade.
    Uma verdade singela de pura admiração. Quem dera tantos outros encontros e desencontros fetichistas tivessem esse mesmo final, harmônico e, principalmente, amigo.

    Mas nada mais a esperar de uma pessoa tão positiva quanto você.

    O que escrevi aqui é uma síntese do que os fetichistas esperam ao dar início a um envolvimento. E nada melhor que pintar um retrato sobre seus tantos devaneios para ilustrar.

    Não forcei a barra não. Foi altamente legítimo e sincero, porque é observando que se alcança a experiência necessária para lidar com certos conflitos.

    Todos temos nossos próprios conflitos. Porque os desejos por mais convergentes que possam parecer, nunca são iguais.

    Fiquei imaginando tua bochecha rosada aqui...rs

    Beijos Rosados
    ACM :)

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