terça-feira, 21 de junho de 2011

Direito de Escolha


O ser humano é complexo, mas acima de tudo interessante.
E quando se torna um fetichista por qualquer fonte de desejo ou prazer, ele assume uma forma tão particular quanto a própria escolha. Isto está acima de qualquer influência ou vivência, porque até os ratos sobrevivem num porão.
Quebrando a cara aqui e ali ele persegue o que mais gosta vez por outra calculando os riscos e suas prováveis conseqüências. Por isso, faz porque quer.
Acontece que todos nós somos acima de tudo críticos de nós mesmos e dos outros. Se o vizinho toma sopa no verão debaixo de um sol escaldante, prá nós pouco importa se tal atitude está relacionada com o prazer do sujeito, porque aquilo que nos parece estranho ou esquisito merece antes de tudo um olhar de reprovação.
Então se alguém consegue encontrar prazer através de eletro choques ou pela dor do açoite é normal que esta pessoa seja encaminhada diretamente ao psiquiatra para tratar de suas sandices. Pelo menos assim pensa a humanidade evoluída e atenta.
Ou vai que o pacato cidadão no auge de sua intensa relação com o próprio desejo, resolve sair à procura de uma boa balada fetichista com desejos extremos de morder pés com altos índices de calosidades e mau cheiro? O pobre infeliz seria conduzido ao sanatório imediatamente. Seria despojado de todos os seus bens e valores por pura falta de juízo e por viver em desalinho com as regras impostas pela sociedade. Um verdadeiro marginal à solta!
Essa é, todavia, a visão que o planeta administra de pessoas com desejos considerados anormais. As chamadas anomalias sexuais não reúnem adeptos dispostos a realizar uma passeata e tão pouco recebe apoio de congressistas interessados em obter votos de uma conhecida minoria.
Essa “regrinha idiota” de bom comportamento todos nós já sabemos, assim como estamos de saco cheio de ler queixas e lamúrias. Porém, num espaço onde os passos caminham numa única direção deveria haver bom senso. Quanto mais divisível o universo em que se habita maiores são as chances de ruptura.
Porque aqui, diante dos nossos próprios olhares, as práticas de alto risco ou as mais audazes são as que provocam mais frisson. Todos querem ser o cara que atira facas ou a mocinha que encosta na roda. O sujeito que manuseia o chicote, o que brinca com fogo, audazes habitantes admirados por todos, boquiabertos com tamanha ousadia. Num mar de hipocrisia desenfreada o único podólatra que presta é aquele que se submete ao trampling da dominadora, já os outros... Ah, os outros, pobres diabos atirados ao chão...
Portanto, aqui dentro da nossa casa falta coerência, compreensão e entendimento.
A frase que diz que cada um deve cuidar do seu nariz infelizmente não se aplica nesse mundo.
E é justamente esta divisão tola que faz com que os praticantes tornem-se cada vez mais dispersos. O anonimato e falta de interesse pela coletividade é cada vez mais comum no BDSM. Não tenho nada contra quem valoriza o espetáculo em eventos, a prática bem feita, elaborada com esmero. Me irrita profundamente a exclusão de praticantes que optam por manifestações fetichistas menos ousadas.
Concordo que cada um deve buscar o que mais lhe agrada. Aceito a tese de que o que os olhos vêem o coração não sente, ou de que o desejo é a Célula Mater que move essa gigantesca roda, entretanto, deve existir acima de tudo respeito pelo próximo e por seus critérios de escolha, ainda que por qualquer razão a prática não seja de agrado da grande maioria.

Por isso aqui não faço distinção. Aplico a regra que acho mais conveniente no sentido de dar espaço a todos que se propõem a ler o que escrevo. Falo de bondage com intensidade porque gosto, estudo, conheço e pratico, entretanto, sem desmerecer o que tantos outros fetichistas escolhem como opção.
Se minha prática não é tão ousada e, por tal razão não agrada a tanta gente, fico com ela, coexisto, e num dia destes ela acha resultado nos olhos ou na cabeça de alguém como eu.
Bem simples, como qualquer fetiche!

4 comentários:

  1. Bom dia, frequento esse blog e percebi que o conteúdo dele é de excelente qualidade!
    Ofereço o meu selo atestando que gosto do que é escrito aqui nesse espaço:

    https://picasaweb.google.com/lh/photo/U1llt_6W1897ZX3viV-Vcw?feat=directlink

    Abraços,

    Senhor Etrom
    http://sretrom.blogspot.com/
    http://BDSMDF.com

    ResponderExcluir
  2. Miauuuu!!!

    Sábias palavras querido!
    Acho que o fetiche diz respeito a cada um, o importante é vive-lo com prazer sem se importar com a platéia.
    Eu gosto do que vivo e relato isso com prazer, pra mim e principalmente para o meu Dono que gosta do que eu escrevo, se as outras pessoas gostam,odeiam ou me acham doidinha, é apenas uma coisa a mais e não o principal.

    Eu gosto muito do jeito que escreve e mostra seus fetiches e tbm o de outros aqui, é sempre intenso e dá vontade de ler mais.

    O que importa é o nosso prazer em primeiro lugar, estamos aqui atrás disso e como sempre você está certissimo em suas colocações. Nem tenho o que complementar, apenas admirar sua coerência.

    Miaubeijos com carinho =^.^=

    ResponderExcluir
  3. Senhor Etrom,

    Obrigado pelo selo, será postado logo mais com seu link.

    Abraço
    ACM

    ResponderExcluir
  4. Princesa Kitty

    Fico feliz em saber que as palavras alcançaram eco nos seus pensamentos.

    Nosso principal dever é saber conviver com aquilo que gostamos.

    Um beijo enorme pra ti
    ACM :)

    ResponderExcluir