segunda-feira, 16 de maio de 2011

A Caixa de Sonhos


Me lembro de ter assistido num espaço cultural um show de mágica. Faz anos, vivia em Amsterdam, e nessa época a vontade de aprender os segredos do fetiche de bondage interessava mais que qualquer outra coisa.
Mas nesse dia um mágico chamado Mário, convocou uma pessoa na platéia para amarrar uma jovem chinesa bem magra que em seguida foi colocada dentro da caixa para ser serrada. Claro que os truques são óbvios e um numero de mágica sempre tem o objetivo alcançado. E num mar de puro ilusionismo a única coisa que despertava interesse era saber como a chinesinha magrela conseguia se desvencilhar das cordas.
Levei comigo a curiosidade, porque os ilusionistas não costumam revelar seus truques.
Tempos depois, ainda em Amsterdam uma nova caixa de sonhos me chamou a atenção. Trazida por um conhecido produtor americano da indústria fetichista, a caixa desvendou alguns segredos que até hoje carrego comigo. Dentro havia várias revistas e filmes em VHS de seu trabalho. Ele estava ali como um verdadeiro mascate, um vendedor andarilho de desejos através das fotografias e vídeos que sua ótica fetichista produziu.
Esse herdeiro de Irving Klaw trazia o aprimoramento da idéia do mestre com uma técnica de causar inveja. E se a principio eu só tinha olhos para os nós e seus efeitos, ao ver o conteúdo da caixa outras sensações vieram fazer sombra aos meus anseios. O desejo de ser um “rigger” era mais amplo. Não terminava com o fim da festa ou entre as paredes do meu quarto. Era o começo do entendimento de que o conceito de bondage é mais abrangente e aquele material mostrava que todas as tendências devem ser respeitadas.
Ainda que tenha demorado alguns anos, naquele fim de tarde gelado me tornei um produtor.
O orgulho estampado no rosto daquele americano me fez achar um espaço, um rumo. Pouco importava pra ele se as capas dos trabalhos tinham um selo, uma marca, se havia comissões a serem pagas ou se ele era apenas uma peça de uma imensa engrenagem comercial. Seu feeling estava preservado e registrado nas cenas, no conjunto da obra.
Um bondagista ou “rigger”, se preferirem, nem sempre é um praticante de jogos de BDSM. Ele procura a arte, um desenho, um traço pessoal que identifica seu trabalho. Porém, para ser um produtor de imagens fetichistas com ou sem movimento, é preciso um pouco mais que uma simples demonstração de técnica apurada com as cordas. Faz-se necessário entender o que o espectador deseja assistir.
E esses caras intrépidos com jeito de desbravadores que chegavam à Europa com os conceitos da América de Irving Klaw, traziam na bagagem muito mais que complicadas imobilizações ocidentais ou orientais. Junto com eles aprendi um negócio chamado de essência, zelo, e, principalmente, aptidão.
Por isso, toda vez que me preparo para produzir um curta metragem semanal nem sempre coloco as cordas em primeiro plano.

Algumas vezes elas cedem espaço, terreno, e outros instrumentos roubam a cena e comandam o espetáculo. Lenços de seda, fitas adesivas e algemas são parte desse universo que reproduz cenas de captura consentida, aprisionamento induzido e fantasias com seqüestros arranjados dentro de casa.
Claro que muita gente aplaude uma bela amarração, da mesma forma que aplaudi de pé o mágico Mário e seu truque ousado com a chinesa imobilizada dentro daquela caixa cheia de adornos. Mas nem sempre esse tipo de mensagem é capaz de despertar o interesse de quem tranqüilo espera pelo que a cabeça de um produtor prepara com esmero.

As fotografias que ilustram a matéria de hoje indicam dois momentos diferentes de uma produção. Na foto acima Jamylle é imobilizada com fita adesiva (silver tape) num vídeo do Bound Brazil. Na foto ao lado, um assinante ilustra através de imagens enviadas ao site o desejo de ver uma produção onde duas modelos são aprisionadas pela mesma algema.

3 comentários:

Aninha Telles disse...

ACM

Belo Sapato da sua modelo!

Beijos da Aninha

princess kitty disse...

Olá!

Nossa, muito interessante isso que vc falou do show de mágica. Eu lembro que quando criança tbm ficava fascinada vendo as assistentes entrarem em caixas, sendo "cortadas" e reaparecendo intactas, ou amarradas e reaparecendo libertas, e sentia (ainda sem saber o que era) o desejo de passar pela mesma coisa, ser trancafiada em caixas, etc.
Mas claro, as minhas são apenas recordações que talvez ja despertassem um inicio de desejo pelo mundo dos fetiches ou não.

Mas a sua experiência em descobrir novos caminhos e aprender com eles,através disso foi muito legal.

Miaubeijos com carinho =^.^=

ACM disse...

Aninha

Vou perguntar a ela onde comprou e te dou a dica...

Beijos

Princesa Kitty

Fico aqui imaginando uma gata amarrada dentro de uma caixa...
Imagina!
Tem que amarrar bem, caso contrário vai arranhar tudo.

Beijos
ACM :)