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terça-feira, 26 de abril de 2011
A Última Casa do Lado Esquerdo
Fui até onde queria, caí quando não imaginaria e me reergui quando devia.
Talvez isso possa resumir o resultado de uma grande aventura. E que aventura...
Não vale falar de quando e nem onde, apenas numa rua estreita de um bairro que hoje nem existe mais. Minha historia com esse local começou num coletivo. Costumava sentar do lado direito do ônibus, sempre na janela, e toda vez que por ali passava aquela mulher balzaquiana estava debruçada no parapeito. E como ficava próximo a então Zona do Baixo Meretrício o interesse era legitimo.
Um dia pensei: “ainda desço dessa merda e embarco nessa aventura.”
Demorou. Semanas, meses, cheguei a perder a conta, até que numa tarde de Sábado quando meu destino tinha um caminho totalmente diferente, criei coragem e segui meu instinto indo parar naquela casa, a última do lado esquerdo da rua que cruzava com a principal onde minha condução diariamente seguia seu rumo.
Dei duas voltas. Passava de lado a outro na tentativa de achar um pouco mais de ousadia para encarar a vergonha de parar debaixo daquela janela e falar com aquela mulher. Lá pela terceira vez ela tratou de simplificar as coisas e me perguntou o que eu queria ali. Gaguejei, quase borrei as calças, mas disse a que vinha. Ela me mandou entrar.
Depois de uma ejaculação tão precoce quanto a minha ousadia, ainda guardava os ecos da imensa satisfação de ter estado com aquela mulher, comum para o mundo e descomunal pra mim, nas inúmeras homenagens físicas que lhe rendia nas minhas noites solitárias no banheiro.
Aos poucos perdi a timidez e quase tudo que conseguia ganhar trabalhando numa banca de jornais era gasto nas tardes de Sábado naquele velho sobrado. Não havia limites. Pra aquela mulher confidenciei meus primeiros sintomas fetichistas. Se havia encarado a vergonha de saltar do ônibus naquela região ante os olhares pudicos com ar de recriminação aos meus atos, por que não abrir o jogo e pela primeira vez na vida falar dos meus anseios e desejos estranhos? Ela seria a minha analista...
Se minha vida fosse comparada a um deserto aquela mulher e a possibilidade de dar os primeiros passos fetichistas era um oásis. E só tive consciência do tamanho do meu envolvimento quando me vi vendendo um relógio pra pagar a conta assim que troquei as tardes de Sábado pelas Sextas, Segundas, enfim, completa embriaguez misturada à imaturidade.
Numa noite de chuva ao sair do colégio o tesão era tanto que não pensei duas vezes. Sacrificaria tudo para estar com ela por meia hora. Nunca tinha ido até lá em horas tão tardias e nem mesmo o perigo de estar num bairro nocivo me fez voltar atrás.
Bati na porta e a encontrei entre garrafas de cervejas, amigos e amigas. Uma gente estranha, diferente das quais eu estava acostumado a conviver. Meio sem graça e encabulado entrei.
Nunca a tinha visto naquele estado etílico. Ela me recebeu pela primeira vez despida de toda a elegância que me atraiu até lá e me apresentou aos amigos. “Esse aqui é o meu garotão, lembra que falei dele? Não? O tarado que gosta de brincar com cordinhas. Não é lindo meu meninão?”
Se naquele lugar houvesse um buraco podem ter certeza de que lá eu estaria. Pela primeira vez me vi exposto ao mundo. Meus segredos revelados a pessoas que riam e soltavam piadas. A minha mente apagou as piadinhas e só me lembro dela gargalhando e uma outra brincando com meu fetiche. Fui embora...
Atravessei a rua sem cuidados, passei diante de malandros e canalhas com raiva do mundo e daqueles proxenetas malditos. Odiei a mim mesmo, roguei praga ao meu fetiche e me achei anormal, indecente e sujo. Tudo isso calado, em segredo, sem dizer nada a ninguém.
Foram anos remoendo essa história. Mudei de lugar no ônibus e nunca mais olhei aquela janela até o dia em que li no jornal que tudo havia sido demolido por conta do Metrô.
E haja forças pra segurar a barra! Se já era complicado conviver com meu fetiche mais difícil era pensar na possibilidade de me expor outra vez. Muita luta, tantos dias de solidão e reflexão até conseguir me levantar e me sentir orgulhoso por ter passado por tudo aquilo.
Talvez não fosse orgulho do que fiz, das loucuras imaturas, mas um orgulho enorme por ter sobrevivido e levado o fetiche comigo pra sempre...
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Histórias Fetichistas
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8 comentários:
affffffffff.....que história, masssss não vou conseguir pitacar ao meu próprio e exclusivo contento, to com muita pressa....
porémmmmm preciso externar ao mundo, vai ter bom gosto e adivinhar os meus assim láaaaa..aí no Rio mesmo...rss....affffffff..essa imagem de sedas e venda..ahh..um delirio pra minha imaginação tão fértil ultimamente.....rss
ahhh tentei controlar minha impulsividade, mas poxa vc não ajuda...hehehe
eu volto...
bjs empolgados
ternura_ACM
oi.
Fico boba de ver como o SR escreve bem. Não tem nenhum livro de sua autoria ai pra mi não??
Sem falar que apesar de triste, o conto chega a ser excitante ja que se encaixa bem na realidade.
Será que ainda tem fetiches com balzaquianas?? (hehe).
petbeijos...
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ternurinha
Volta e solta o verbo. A gente gosta!
A foto é apenas uma atração a mais, do tipo "for your eyes only"
Fetiche e empolgação são gêmeos, e qualquer semelhança com o escriba aqui é pura coincidencia...
Beijos
ACM :)
Olha dogpet, talvez essa seja uma das minahs grandes frustações. Mas não seria um livro fetichista, pelo menos na essência.
Um dia quem sabe né?
Quanto ao final parecer triste é bem provável que passe essa impressão. Em todo caso serviu como exemplo, como estímulo. Às vezes é preciso sentir o sabor da conquista pra darmos o exato valor a tudo.
Quanto ao fetiche por balzaquianas gostaria de te dizer que é eterno, assim como o fetiche, afinal, tudo que começa na adolescência tende a nos seguir enquanto aqui estivermos.
Beijaço pra você!
ACM :)
Que lindo relato , delicia saber dos obstaculos fetichistas dos homens , sinal que nem só submissa sofre rss, eu concordo com a dog tem que escrever um livro sim , será um sucesso, beijos
Olá princesa do SenhorWZ®
Pois é amiga, existem percalços.
Muitas coisas foram suplantadas pelo desejo maior de jamais dar as costas ao que escolhi.
São tantas, por anos e anos, algumas mais relevantes e que valem ser revisitadas justamente para mostrar aos mais novos o quanto foi difícil chegar até aqui, e aliás, o quanto ainda custa se manter aqui.
O livro...rs
Acho que depois de mais uma dessas vou passar a pensar no assunto.
Beijaço pra ti e abraços ao meu amigão WZ.
ACM :)
Meu Insano e Voraz Senhor, boa tarde.
Certa vez, concluímos que muitas vezes escrevemos para o prazer alheio; embora o nosso prazer, seja tornar público algumas de nossas aventuras.
Então... nem preciso dizer o que faço, te lendo, preciso?
Concordo com a Ternura, você tem muito bom gosto.
Beijos doces, desta Pequena Dama, Lollis.
Pequena Dama
A ternurinha é suspeita pra falar dos meus gostos...rs
Fico feliz que tenha gostado da historinha, e acredite, foi mesmo bem real.
Beijos insanos
ACM :)
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