quarta-feira, 13 de abril de 2011

E Quando Forem Vinte?


Em tese, deveria ser uma daquelas histórias do cara que conhece a gata...
Mas quando a fantasia se desvenda sem retoques o lugar dos plebeus se encanta. Um idioma diferente ao redor, luzes e sombras se misturaram numa dose correta de Mojito.
Mais uma dose! Entre tragos e suspiros o olhar da serpente do deserto anunciava o canto da sereia no mar. À esperteza de encontrar o lugar onde todos os males se curam e as dores desaparecem.
O realejo começou a contar uma história que tinha ares infinitos e cumplicidade com a eternidade. Neste dia, o pássaro solitário escolheu a trama perfeita ao deixar à gaiola. Um caso de anjos e demônios vivendo em plena sintonia debaixo do mesmo teto.
O mundo era meu e o sentimento de posse absolutista era fruto dos desejos realizados na plenitude. Cada detalhe trabalhado a exaustão, com fita métrica, na exata medida. Fetiche e sexo sem medos ou limites, ouro sobre azul.
A agonia da incerteza anulada por total dedicação.
Era chegada à hora do velho caçador desfrutar do descanso. Cordas e mordaças finalmente encontravam a parceria perfeita num lugar em que todas as bússolas apontavam como o quadrante exato onde o fetichista deixaria suas malas.
Bastava desejar e num piscar de olhos as coisas aconteciam cada vez mais intensas.
Um fetichista se descobre realizado quando sua intensidade é plenamente atendida e, principalmente, quando a parceira entende e conhece todos os atalhos capazes de te fazer acreditar que existe realmente abrigo para todas as suas pretensões.
Mas como disse Gracián, tudo o que é muito bom sempre foi pouco e raro. O muito é descrédito. A extensão sozinha nunca pôde exceder a mediocridade, e essa é a praga dos homens universais, por quererem estar em tudo, estão em nada.
Então é fácil concluir que o bondagista perdeu o trem da sua própria história.
A paixão pelos desejos alheios cedeu à boçalidade de acreditar que o brinde era maior que o ganhador. E talvez esse vencedor não tenha entendido que dentro de toda magia havia um ponto de cisão onde uma linha imaginária delimitava o bem e o mal num conceito confuso.
O mundo já não me pertencia e decidi apostar todas as fichas em nome de um passado recente e tentar recriar uma formula que já não fazia qualquer efeito. Passei a entender as palavras de Gracián e me contentei com o pouco.
Finalmente a estranha sensação de ver a vida através de uma gangorra. A felicidade em fragmentos fazendo valer a teoria macabra em que dia de muito é sempre véspera de pouco. Inúteis reflexos vazios, vãs tentativas de mudança de rota contrastando com o desejo de vingança traduzido na esperança de nunca mais querer o cálice da plenitude.
Anjos e demônios já não se entendiam mais e restavam as sobras. Naquela altura chegava à conclusão de que o realejo não mostrou a outra face da sorte e minha única chance era escapar ileso, sem comprometer meus desejos e sem perder a minha própria razão.
Hora de juntar os cacos, fazer as malas e voltar pra casa.
Entender que a cumplicidade havia sido efêmera e a razão, neste caso, sobrepôs à emoção.

O fetiche carregou a culpa e já que veio comigo se havia um culpado esse alguém era eu. Era preciso pegar a tempestade e colocar dentro de um copo d’água e reerguer, procurar a dignidade perdida e sair de cabeça em pé como um cara dedilhando seu violão no centro de um imenso pátio vazio tocando uma canção.
Não levei as fotos, mas guardei comigo um monte de boas lembranças.
É incrível admitir que esse tipo de sentimento ainda desperta o lirismo que nos leva a divagar entre sonhos e desejos desfeitos com tamanha naturalidade. Jamais imaginei ainda sentir coisas tão vibrantes após tanto tempo.


São fatos que o tempo não apaga, mesmo depois de mais de dez anos.
E quando forem vinte?

4 comentários:

  1. Poxa ACM fiquei sem ar :D

    Maravilha de texto. Desulpa mas vou guardar...rs

    Já li umas quatro vezes e ainda tenho vontade de ler outra vez.

    Sábado não rolou mas dia 20 eu vou.

    Beijos babados
    Aninha

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  2. Aninha,

    Acho que eu estava inspirado...
    As vezes é assim: rola um pensamento distante e os dedos deslizam.

    Também, é tanta historia pra contar que algumas delas são impossíveis de serem esquecidas.

    Beijos
    Dia 20 a festa deve ser boa
    ACM :)

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  3. Humm mais textinhos narrativos, quem sabe eu consiga pitacar como sua fã numero um, afinal posso ter uma visão mais aprimorada da coxia de suas fantasias...hehehe...Vejamos:

    Nossaaa.....histórias de uma noite de verão ou simplesmente algumas divagações de um bondagista sonhador ??
    Sozinho em sua cama, ou sob a luz do sol, ou talvez quem sabe numa belíssima tarde de garoa fininha em um dos bairros de São Paulo, num quarto de hotel,
    Onde displicentemente ensaiva um rock e nesse bonde seus personagens eram obrigados a serem felizes.
    Ahhh caríssimo cantador de ilusões e nessa tão expressiva recordação, sem ao menos uma fotinho na parede do quarto, mas quem precisa de retratos quando a memória é o melhor álbum.
    Diante de tal cenário, deixe a emoção tomar conta dos momentos futuros e seja vc feliz também... *pisc

    Uia me empolguei com a coisa do lirismo...afff..... acontece quando a gente gosta do que se lê...hehehe

    bjs ternos
    ternura_ACM

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  4. Ternurinha

    Seria - digamos - meu jeito diferente de ver as coisas.
    Jamais renegaria ter no futuro experiências tão boas quanto as que vivi, e quem sabe ainda podem ser até melhores...

    Acho que a analogia do texto - ou o lirismo que te empolgou - se dá por conta da passagem do tempo.
    Por mais que seja implacável e soberano deixa marcas que ele mesmo se esquece, mas em nós habitam pra sempre.

    É isso!

    Beijão
    ACM :)

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