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quinta-feira, 7 de abril de 2011
Anomalias e Mitos
Quando voltei ao Brasil em 1993 após quase três anos vivendo em Amsterdam tive acesso ao livro Different Loving de autoria de Gloria & Willian Brame e Jon Jacobs. Considerado por muitos como a bíblia do BDSM o livro narra uma viagem ao universo da dominação e submissão sexual como fonte de prazer.
A obra desvenda ao mundo os bastidores de uma anunciada febre cultural – assim denominada pelos autores – e deixa claro aos leitores que naquela obra alguns temas como pedofilia, necrofilia e zoofilia estariam fora do debate. Os dois primeiros por serem considerados crimes bárbaros na maioria dos lugares do planeta e o terceiro por não ter o princípio consensual que as atividades do BDSM exigem.
Naquele momento eu finalmente juntava a beleza das imagens e experiências vividas na Europa com o conhecimento necessário para entender de uma vez por todas os caminhos desse universo e seus habitantes. Embora muitas das atividades assistidas por mim não me mostrassem um rumo, ou interesse de me aliar aos grupos praticantes, o primeiro critério era compreender aquele mundo como um todo, uma vez que minhas práticas, ainda que diferentes, estavam inseridas num mesmo contexto.
Se considerarmos determinadas práticas como anômalas apenas por critério de escolha alijamos demais alguns fetichistas e seus desejos, porque na verdade, todas devem estar misturadas num mesmo pote, pelo menos no quesito de coisas fora dos padrões do que se passou a entender como regra social de conduta.
De fato, apenas os fetiches considerados bizarros fariam parte de um segmento distinto, muito mais por lógica do que por outra razão.
Se não é considerado normal alguém obter o prazer através de açoites e castigos, também não pode ser analisado como normal um sujeito e sua adoração por partes do corpo humano, como pés e outros elementos ou o cara que tira doses de prazer fazendo uso de cordas ou algemas durante a prática sexual imobilizando a parceira. Está certo que não machuca tanto como os flagelos, mas pode-se dizer que foge aos conceitos de normalidade.
Pesando dessa forma me vi identificado com o BDSM. Passei a interagir com toda aquela gente que minha visão nada periférica e interiorana já traçava linhas de preconceito.
Destruí um mito e acabei com barreiras. Todos a partir de meu próprio entendimento passaram a fazer parte de uma mesma platéia. Nunca precisei experimentar certas práticas para entendê-las, pois havia o conceito e, sobretudo, uma integração ampla bem mais consistente.
Toda essa historia demonstra que o fetichista tem por obrigação conhecer o universo que o acolhe. Muitos falam em acolhimento, mas sem saber ao certo o porquê de existir esse termo. O BDSM acolhe as práticas de adultos que gostam de jogos e fantasias para apimentar suas transas, mas ao mesmo tempo, ensina sobre comportamento e atitudes. Disserta sobre a história dos fetiches e faz o individuo ter a noção de que não está sozinho no mundo.
Claro que ninguém aceita ser taxado de anormal dentro de um conceito de sociedade. Muitos temem por afastamentos familiares e por perdas irremediáveis. Isto tudo força o fetichista a criar um universo paralelo dentro de sua própria existência, assumindo uma falsa identidade para assim conviver em grupos sociais desconexos.
Porém, o mais importante consiste em se aceitar como fetichista e ter a absoluta certeza de que suas práticas são as mais convenientes para satisfazer as suas fantasias, mesmo que tudo isso se processe de forma clandestina. Um fetichista não identificado com suas práticas fica sem rumo. Vaga de um lado a outro apostando aqui e ali e jamais encontra a realidade de seus desejos. Por outro lado, um fetichista consciente e plenamente realizado em suas fantasias é capaz de compreender outros passageiros de um mesmo trem, ainda que viagem por diferentes direções.
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6 comentários:
Olá!
Simplesmente perfeito!
Tendo a consciência dos nossos desejos nos aceitamos e aos outros tbm.
Como sempre, excelente texto e abordagem.
Miaubeijos =^.^=
Olá princess
Obrigado pelas palavras.
É apenas uma visão particular do que me fez chegar até aqui quanto a conceitos dentro do BDSM.
Grande Beijo
ACM :)
Como disse princess, perfeito.
beijos
Acm meu anjoo, eu sempre falo que todos deviam se apoiar, mas cada um no seu quadrado. gostei muito da forma franca e delicada como escreveu hj!!
petbeijos...
dogpet
Uma vez envolvido no universo fetichista, a melhor postura é ter entendimento de tudo que se passa com todos que coabitam.
Pensando assim as chances de fracasso diminuem consideravelmente e nada, por mais estranho que possa parecer, é capaz de nos causar espanto.
Grande beijo
ACM :)
Angelike
Obrigado.
Fica apenas a constatação depois de anos de envolvimento, que o fetiche visto como um todo é muito melhor digerido.
Valeu por vir
Beijos
ACM :)
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