terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

43 Graus


Largo da Carioca, Rio de Janeiro, entre uma e duas da tarde.
Bom, quem é daqui do Rio sabe o inferno que é cruzar esse imenso largo num começo de tarde de verão. Pra quem não conhece, melhor nem imaginar a lua...
Ontem, passava tranqüilo e calmo – sim, porque se você se apressar chega encharcado no destino – para ir almoçar e em meio às costumeiras barracas que vendem de tudo, artistas populares suportavam os 43 graus que o termômetro mostrava em busca de audiência.
Lá pras tantas cruzei com um monte de gente fazendo uma roda e no meio estava um negão atarracado e um magrinho moreno com uma corda na mão. O negão colocou uma bacia no chão e aos berros desafiou qualquer um dos que assistiam a amarrá-lo com aquela corda afirmando que se soltaria com facilidade.
Daí tive que parar pra ver a habilidade (?) do seu parceiro. Claro que ninguém se atreveu a realizar a tarefa e coube ao parceiro amarrar o cidadão. Da forma como ele montou o circo qualquer pessoa sairia com facilidade daquela imobilização. Pra começar a corda era muito grossa e velha, o que facilitava tremendamente o desafiante. Depois a forma como ele fez o serviço, deixando os braços do cara paralelos ao corpo sem cruzar nas costas.
Dito e feito. Em questão de segundos o negão saiu da armadilha e catou a grana dos que colocaram dentro da bacia.
Claro que fiquei pensando em voltar lá com uma bolsa de cordas decentes e dar uma laçada naquele negão, colocar duas bacias no chão, uma pra mim e outra pra ele, e no fim da tarde sair com uma grana preta no bolso. Mas a onda do cara não é essa na verdade. Dizem que ele está lá na Carioca faz um tempão, coisa de trinta anos e no passado chegou a se apresentar em programas de auditório na televisão.
A moral da história é simples: você pode ganhar uma grana onde e quando quiser, menos tomando o que é dos outros.
Se os transeuntes param pra assistir aquele entretenimento em via pública há tanto tempo é porque o cara montou muito bem seu espetáculo. O cidadão é comunicativo, sabe explorar com habilidade a brincadeira e, quem sabe, sustenta uma família com o que consegue amealhar ali. Por outro lado, o meu fetiche não tem nenhum negão suado na fita. Ainda se fosse uma linda gata de biquíni naquele calorão eu poderia até pensar no assunto, mas nada disso faz parte do show daquele sujeito.
E além de tudo isso, ao lançar o desafio, no fundo ele sabe que as pessoas que se juntam pra ver o numero não querem estar no centro das atenções. Com isso, ele tem aquele magrinho que deve levar uma graninha pra dividir a cena. Há o risco de aparecer um bondagista doidão e acabar com a festa, é óbvio, mas seria uma chance em um milhão, o que preserva a mega-sena do sujeito e seus assistentes (há uma menina que recolhe a féria).
É legal ver o bondage na rua, mesmo que seja concebido sem a devida elegância e fetichismo.
Quem sabe não fica aqui uma boa lição pra quem quer introduzir uma brincadeira de cordas em sua próxima aventura sexual? Pois é, lance um desafio. Amarre sua parceira (ou deixe que ela o faça) e conte no relógio o tempo que ela levará pra se libertar. Um joguinho é sempre um bom exemplo de desmistificar as coisas e seu tesão e fetiche estarão garantidos.

Isso vale até para os fetichistas acostumados a esse tipo de “game”. Uma aposta é sempre bem vinda e existem centenas de fetichistas que se excitam com o escape.
Apenas tenha cuidado com o que será apostado neste jogo. Há certas mulheres que dariam tudo pra ganhar uma partida e depois ficar com a faca e o queijo na mão. Duvida? Eu não.

As fotografias que ilustram o artigo de hoje são uma cortesia de um amigão, um parceiro de longa data e um craque quando o assunto é bondage: David Knight. Ficar treze anos na vitrine não é pra qualquer um.

2 comentários:

  1. Nobre amigo ACM,

    mais uma vez trocamos de lugar, enquanto o amigo, navegava pelos blogs paulistas eu me informava dos assuntos cariocas..rss

    ahhh então quer dizer que por aí tbm é perigoso a caminhada, digamos mais apressada?!?!?! ....rsss.... eu sei bem do que se refere, conheço um pouco o calor carioca.

    passadinha para dizer que não me esqueci do seu texto não, Dono de mim já autorizou, nossa!! porém , ao mesmo tempo, sinto-me lisonjeada e temerosa, pois escrever para um Mestre das palavras escritas, é responsabilidade pra mais de metro...rss..*pisc

    bjs ternos
    {ternura}_L.B.

    ResponderExcluir
  2. Querida {ternura}_L.B.

    Perigoso acho que nem tanto, diria desaconselhável...

    Tua escrita é deliciosa, recheada de detalhes que fazem o leitor viajar por aí com o fetiche na testa.

    Vou aguardar e publicar assim que chegue por aqui. Tema livre, nunca se esqueça.

    Meu objetivo desde que começei a escrever por aqui foi alcançar o espirito comunitario. Se todos somarem a roda aumenta...

    Beijo Grande
    ACM:)

    ResponderExcluir