segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Esmagando Insetos


A Elen é prostituta. Conhece como poucas a arte de encantar platéias. Faz disso a sua vida, e monta o seu cenário de acordo com o espectador. E muito pouco importa se existe apenas um solitário cidadão para assistir ao seu número, o que ela quer é fazer bem feito.
Em meio a uma carreira de altos e baixos, encontros e desencontros que já leva quase dez anos, ela acumulou experiências suficientes para editar um livro se esse fosse o desejo, mas a Elen quer na verdade é pular etapas e buscar outro caminho.
Enquanto esse dia não chega, ela sonha com o príncipe encantado ou quem sabe viver uma história romântica tipo “Pretty Woman”, entretanto a realidade é dura e no dia seguinte tem conta pra pagar.
Perdi a conta de quantos emails lhe mandei por curiosidade mórbida, afinal queria saber sobre experiências fetichistas colhidas em tanto tempo de aventuras. Podem mesmo achar estranho, mas essa troca é benéfica porque amplia horizontes e ajuda na compreensão de fatos.
E de tanto insistir ela atendeu aos meus apelos e abriu o verbo.
Contou de tudo. Foi tanta história que quase alcançou o glossário fetichista de A a Z.
Porém, o que mais me chamou a atenção foi o caso do sujeito que gostava de insetos esmagados. Bizarro? É pouco, porque os detalhes são de arrepiar os cabelos.
Ela conta que chegou num belo apartamento da Zona Sul do Rio de Janeiro e lá um elegante e comportado senhor a esperava. O cachê era alto e segundo ela mesma descreve, nestes casos tidos como especiais a expectativa é sempre sobre a realização de alguma fantasia exótica.
O sujeito a recebeu bem, convidou-a para sentar e foi taxativo ao ordenar que ela não retirasse nenhuma peça do que trajava.
“Eu já imaginava alguma coisa bizarra pelo modo com que ele procurava me deixar a vontade.”
Essa frase tem uma explicação. Segundo a Elen os que gostam de partir pra cima logo de cara não ficam de rodeios. Querem logo ver tudo que seus olhos alcançam e não esperam cinco minutos para atacar.
Mas o fino cidadão tinha outros planos em mente.
Depois de muita conversa e um drinque, mostrou uma caixa de fósforos daquelas grandes e mandou que a Elen abrisse com cuidado. A moça percebeu que dentro da caixa pequenas baratas andavam de um lado ao outro na inútil tentativa de escapar. Ela fechou a caixa imediatamente e teve vontade jogá-la na cara do cidadão. Esbravejou, chamou-o de louco e prontamente juntou as coisas para ir embora.
O ponderado senhor pacientemente tratou de esfriar a revoltada Elen. Talvez acostumado a este tipo de atitude, aos poucos conseguiu convencê-la a pelo menos ficar e escutar o que ele queria dizer. Gastou saliva, foi profundo nas razões de seu fetiche. Falou em solidão, em coisas que fizeram com que a moça resolvesse voltar atrás.
“Eu fui clara: esmagar as baratas tudo bem, mas a caixa eu não abro.”
Acho que o final da história eu nem preciso contar. Até onde eu saiba a Elen voltou lá outras vezes, a grana era boa e o sujeito a tratava com carinho. O fetiche tinha um aspecto nojento e ela até hoje não sabe explicar como aquele cara conseguia se masturbar vendo-a esmagar baratinhas com um salto alto.
Pois é Elen, alguns fetiches são inexplicáveis...

A escolha da garota de programa para realizar a fantasia bizarra já é um indício da dificuldade que o praticante tem em encontrar parceira para suas estripulias. Ainda que as razões apresentadas pelo sujeito fossem vazias e a solidão apenas representasse aquela noite, o apelo financeiro fez com a Elen aceitasse participar do jogo e aos poucos repetir.
Muitas vezes mais vale esmagar insetos a passar uma noite longa em meio a drogas e farras sem fim.

Outro dia conto mais casos.

Um comentário:

  1. Sr ACM,
    realmente é esquesito sentir prazer vendo uma barata sendo esmagada por um salto alto, mas fetiche é fetiche, nao é o meu, tenho certeza disso. é tanto q estou aqui enojada, quase vomitando mesmo.rsrs

    ResponderExcluir