terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Primeira Vista


A pessoa pode estar encantada por imagens fetichistas, afinal se existe identificação passa a ser uma doce realidade, ainda que virtual. Tudo é mágico no reino da fantasia...
Mas chega o dia em que essas imagens são vistas a olho nu, e o primeiro contato pode ser sinônimo de apego ou abandono.
Por mais experiente que seja, o fetichista sofre um impacto quando se depara com sua própria semelhança, quando percebe que aquilo que está diante de seus olhos é real, carne e osso, como se alguém o tivesse removido do conforto de sua sala pra dentro de um dungeon.
Há que saber lidar com isso porque a primeira imagem ninguém esquece.
Qual bondagista nunca tremeu ao fazer os primeiros nós na primeira parceira receptiva?
Comigo não foi diferente.
Me lembro de um dia em que passeando pelas ruas de Amsterdam tomei coragem pra entrar num dungeon de aluguel. Já contei esse caso aqui, em detalhes, de quando enchi a paciência de uma dominadora com as minhas perguntas idiotas.
Não havia internet, nada era parecido com a realidade. E olha que eu já tinha firmeza de propósito, sabia exatamente o que queria e trazia na bagagem uma experiência, ainda que pequena, acumulada com namoradas antes de estar ali.
Juro que senti a dor do primeiro submisso maltratado pela loura. A mulher parecia imensa brother, porque além de seus um metro e oitenta, aquele salto de uns vinte centímetros a tornava gigante, em altura e atitudes. Enfiou um plug no rabo do cara, torceu-lhe as bolas e as amarrou torcidas, de forma impiedosa. O sujeito só gritava e jamais pedia arrego. Assisti a tudo na poltrona da mulher porque ele queria público. Estávamos eu, uma senhora com cara de cafetina e um baixinho que seria o próximo da fila.
Essa cena ficou gravada no meu subconsciente, tatuada na lembrança e até hoje recordo de cada detalhe como se estivesse naquele lugar cheirando a mofo e velas queimadas.
Nunca tive tendência sadomasoquista, mas queria ver como era, saber de tudo.
Uma vez, faz tempo, levei uma amiga na qual tinha interesse a uma festa fetichista. Era a chance de apresentá-la ao meu mundo underground, ao meu lado B. Temendo que ela passasse algum desconforto, tratei de explicar diferenças, consensualidade e critérios. Fui didático, litúrgico, usei toda minha experiência em prol de aproximá-la do fetiche para fazer minha proposta indecente.
Deu tudo errado. A mulher tomou horror por tudo que viu e nem me deu brecha pra tentar dialogar, explicar que meu fetiche começava e terminava com cordas. Nunca mais usei essa tática. Perdi, aceitei e fui em frente.
Por isso é muito complicado convencer pessoas sem qualquer identificação com esse tipo de práticas sexuais a aceitar uma aproximação. Como diria um amigo, é como chover no molhado, malhar em ferro frio.
Resumo da ópera: procure saber como tudo se processa antes de se aventurar.
Nos dias de hoje a literatura é farta e gratuita na internet, fotos e vídeos estão disponíveis para cuidar desse approach entre o fetichista e seu universo, basta ter vontade e saber escolher de que lado do campo é melhor jogar.

Evitar apostas em práticas que não lhe dizem nada e ter consciência de que ninguém, nem mesmo os mais experientes sabem tudo, porque nesse mundo “diferente” não existe os donos da verdade. Cada um, com o tempo, deve aprender a conviver com seus próprios impulsos sem se deixar atrair por coisas estranhas aos seus sentimentos apenas por sugestão.
É fácil conviver com o fetiche depois que se aprende tudo a seu respeito: basta nascer com ele nas veias.

(Fotos: Red Light Amsterdam)

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