quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Terror e Êxtase (1979): O Cinema Nacional Mostrou o Fetiche


O cineasta Antonio Calmon encontrou na obra homônima do lendário José Carlos Oliveira a fórmula simples de realizar um dos melhores filmes policiais de todos os tempos.
Essa obra marcou a estréia da competente e bela Denise Dumont no cinema, contracenando com atores consagrados como Roberto Bonfim e com uma promessa das telas, André Di Biasi.
O cinema brasileiro da época, amparado na lei de obrigatoriedade de exibição de 1968, a qual constituiu a chamada reserva de marcado do filme nacional e acostumado a despejar nas telas pornochanchadas sem nexo, realizou no final dos anos setenta algumas obras primas cultuadas por cinéfilos até os dias de hoje.
No roteiro, Terror e Êxtase mostra um conflito de classes através do envolvimento de uma jovem moradora do Leblon com um traficante. Mesmo após ser raptada e estuprada por ele, ainda o ajuda a tramar o seqüestro de um amigo rico.
Mas se esse espaço fetichista pauta por dar ênfase a certos detalhes que movem nossa pulsação sanguínea, vamos direto ao assunto: bondage e voyeurismo.
Arrependida de seus atos, Leninha (Dumont) reage contra os seqüestradores e passa a ser cativa assim como seu amigo, dando início a uma série de seqüências com ótimas cenas de bondage, onde cordas e mordaças tomam conta da tela.
Contrariado com a situação, o bandido Mil e Um (Roberto Bonfim) protagoniza cenas de voyeurismo assistindo aos atos sexuais entre Leninha e Betinho no cativeiro.
As tomadas de estupro pré e pós o seqüestro, mexem com o imaginário dos fetichistas que assistem ao filme, principalmente porque conseguem isolar o impulso sexual da crueldade de uma cena que supostamente seria real.
Um bondagista não é um demente estuprador ou um facínora qualquer, ele apenas afaga seu desejo sexual com imagens que funcionam como um pólo de atração a sua libido. Isso explica essa dissociação entre o terror e o êxtase, tal como o titulo do filme.
Por isso, é possível tirar proveito dessas cenas que povoam os filmes policiais e, nesse filme de Antonio Calmon algumas passagens como a de Leninha deixada amarrada na cama por seu raptor no começo do filme e a cena derradeira quando os dois são abandonados a própria sorte numa mata amarrados e amordaçados.
Imagens como estas são capazes de preencher a lacuna de um apaixonado por bondage enquanto aventura (damsels in distress) e, ainda, ter a disposição uma história muito bem elaborada retratando o cotidiano da época e suas nuances do submundo marginal.
Fica então uma dica aos apaixonados por cenas de bondage em filmes do cinema para assistir a Terror e Êxtase, disponível em algumas locadoras e passível de aparecer em uma reprise do Canal Brasil da Net, ou da Bandeirantes numa dessas madrugadas de Sábado.
Quem sabe desse roteiro possa ser possível sacar grandes idéias para sua próxima aventura com seu par perfeito?
Dentro do principio consensual, é claro.

Terror e Êxtase (Ficha Técnica)

Adaptação e roteiro: ÁLVARO PACHECO, ANTONIO CALMON.
Do romance de JOSÉ CARLOS OLIVEIRA.
Fotografia: EDGAR MOURA.
Música: REMO USAI.
Edição e montagem: GIUSEPPE BALDACONE.
Produção executiva: NELSON MOURA.
Produção: ÁLVARO PACHECO.
Direção: ANTONIO CALMON.

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