
Lá se vão quase quinze anos…
Foi exatamente no outono daquele ano que recém chegado da Europa onde havia o cheiro do fetiche em toda parte, com a cabeça cheia de influencias, resolvi ousar e engatinhei meus primeiros passos rumo a produções de vídeos.
O alvo era as grandes produtoras americanas e aquela que mordesse a isca na frente acabaria dentro do barco.
Não me faltavam idéias, equipamentos, mas o material humano era escasso e distante. Até que numa tarde encontrei uma amiga dona de um bar na antiga estrada de Jacarepaguá aqui no Rio de Janeiro que comprou a idéia, acreditou nas minhas conversas visionárias e trouxe tanta candidata à modelo que foi difícil escolher a musa (a história era com apenas uma garota) para ser a estrela do filme “Nights on Fire”.
Havia alguns motivos por optar em realizar o primeiro vídeo com apenas uma menina: ainda não me considerava em condições de dirigir três ou quatro mulheres num enredo mais elaborado e, também, diminuía consideravelmente as chances de rejeição da produtora.
A Close-up era tão rígida quanto a Harmony, não tinha tanta penetração na mídia apesar de ser suscetível a cenas mais sensuais, porém os (“do” e “don’t”) tinham praticamente os mesmos critérios.
Era tarde pra retroceder e escolhi a Shirley como minha primeira bondagette da porta pra fora.
Ela tinha dezenove anos, era jovem e achava tudo aquilo estranho e engraçado. Não entendia muito bem qual era a graça da brincadeira, mas a grana era boa. Naquele tempo um vídeo de bondage em VHS custava ao interessado cerca de sessenta dólares, e levando-se em conta a inflação acumulada no período, traduzido aos dias de hoje praticamente dobra esse valor. Então, ela fez o dever de casa, decorou cada cena e entre suor, temores e muitas repetições o filme de uma hora de duração saiu do forno dividido em cinco partes.
Cada parte tinha um figurino diferente e uma boa suíte de um motel foi palco dessa ousada aventura pioneira. A sala de jantar, o quarto, a banheira de hidromassagem (duas vezes) e o banheiro.
A última cena paga o vídeo, como se diz na gíria. Mostrando desenvoltura após duas horas amarrada, Shirley molhou o cabelo e deu um show de sensualidade mordendo uma mordaça cleavedgag, exibindo seu corpo irretocável por inteiro ditando a batida de um final perfeito.
Apesar de cumprir com todas as normas e fotografar as melhores cenas, o filme entrou em catálogo na Close-up no final da listagem da ultima página da revista (a Internet por aqui estava no embrião). Produtores americanos, conhecidos do publico lá fora, tomaram as primeiras fileiras e Nights on Fire ficou na sombra dos holofotes voltados para aqueles caras.
A venda foi fraca, o custo benéfico foi pras picas o que me fez amargar três anos no anonimato até levantar a cabeça e produzir “The Rosemary Revenge” um sucesso de vendas pela Harmony Concepts, do qual já falei aqui.

Por apenas dezessete Reais será possível ter essa jóia guardada em arquivo para saborear cada pedaçinho.
De lá pra cá muita coisa aconteceu, mas a chama do bondage é rigorosamente a mesma. Os nós, os detalhes e o fetiche.
A Shirley hoje é uma mulher na casa dos trinta, ganhei uma barriga e cabelos brancos, mas a essência do bondage corre com a mesma força dentro de mim.
Consigo lembrar cada pedaço daquela noite e vou guardar comigo pra sempre, como o dia em que ousei desafiar monstros sagrados do bondage e arranjar um lugar na sala, mesmo na ultima fila.
Hoje o Bound Brazil exibe o filme Nightmare com Carolina, Jessy e Carlos vivendo uma bonita aventura recheada de clorofórmio bem ao estilo Damsels in Distress.
Imperdível.
Um excelente final de semana a todos
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