quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Coisas que agente não esquece


Quem sabe a chuva me deixou nostálgico a ponto de contar uma história, ou pode ser que em algum momento tenha lembrado disso como se estivesse num fundo de baú trancado a sete chaves, vai saber, o fato é que certos momentos ficam mesmo marcados e reviver dá até saudade.
Era início da década de oitenta, muito jovem senti aquele término de um namoro que já durava cinco logos anos como uma paulada na cabeça. Passado um mês, notei que terminar uma faculdade e iniciar a outra ao mesmo tempo além de trabalhar em expediente de seis horas por dia mais nos finais de semana, não me deixava muito espaço pra ficar pensando. Foi aí que apareceu a Rose na minha vida.
Típica carioca morena clara de pele macia Rose era irmã de um amigo e apesar de nos conhecermos há tempos, nunca rolou qualquer tentativa de aproximação, porque além de ser comprometido ela conhecia a minha então ex namorada.
Mas numa das viradas da vida acabamos nos embolando depois de uma noitada e então pude notar sua exuberância naquele motel. Saí de lá com mil idéias e planos e como um legitimo “tarado” me preparei para o ataque...
Dois dias depois, numa Segunda-Feira no silencio da noite, assisti na Bandeirantes ao filme “Horas de Angústia” (Terror Among Us), já falei dele aqui, e aquelas aeromoças amarradas e amordaçadas selaram o destino da Rose: era assim que eu a queria!
Até então, meu bondage era inocente demais, sem muita imaginação ou ousadia. Quando conseguia começar a conversa sobre o fetiche e colava, tudo acontecia na base do improviso, corda era cadarço de tênis, tira de roupão quando a grana dava para uma suíte, ou qualquer coisa parecida que estivesse por perto. Mas depois daquele filme decidi que tinha que ser com roteiro, iria viver minha própria saga bondagista e ponto final.
No Sábado seguinte com a Rose engatilhada, fui até uma loja de ferragens e comprei dois rolinhos de cinco metros cada daquelas cordinhas de três milímetros de espessura que se usa para pendurar secador de roupas. Bolei meus primeiros cortes desajeitados e resolvi apresentar minhas armas durante a “batalha”.
Naquela época eu tocava na boate do Clube Costa Brava aqui no Rio de Janeiro no bairro do Joá, e aquela vista do mar aberto, mesmo à noite de cima da ponte era ponto de partida para arrastar aquela morena e saciar meus desejos. Parei de tocar lá pelas duas da madrugada, e a Rose já calibrada de Martini Doce (ela era louca por isso!) nem pestanejou em terminar a balada numa cama quentinha.
Era verão e ela naquele vestido branco e de sandália de tirinhas branquinhas me deixava tremulo pra guiar o carro. Quando apresentei as cordas já dentro do motel, tremi mais que vara verde, mas mantive minha pose soberana de saber o que fazia. Foi então que a safada me sussurrou no ouvido: “o que você vai fazer comigo com essas cordas...”.
Tive que segurar pra não babar ali mesmo, porque o Zé Mané lá embaixo deu sinal de vida de uma forma incontrolável...
Tirei seu vestido e amarrei cada pulso em cada tornozelo, deixando-a aberta e vulnerável com uma mordaça branca entre os dentes que armei com as tiras do roupão.
Percorri cada detalhe do corpo perfeito com minha língua como se fosse uma estrada na direção do paraíso, fiz aquela mulher ter múltiplos orgasmos antes de explodir no final de uma sessão de bondage das mais completas que já tive...

A Rose foi minha primeira modelo e parceira de bondage de verdade. Com ela experimentei o que minha cabeça ordenava, mãos às costas de quatro, mãos e pés amarrados na banheira de hidromassagem, enfim, desejava e fazia com cumplicidade total, porque até aquela mulher só havia recebido permissão para a prática de bondage, porém a Rose praticou junto comigo e curtia cada momento com um prazer que me assustava de tão intenso.
Da merda à glória em tão pouco tempo, era difícil de acreditar e confesso que me achava o cara mais feliz desse planeta, até que um dia uma pessoa a quem tenho em alta consideração e respeito, com quem ainda me relaciono mesmo passados tantos anos, me chamou num canto e contou sobre as aventuras da Rose quando não estava comigo.
Desci do altar com dignidade e chamei-a as falas. Mas ela foi tão sincera ao afirmar que nada havia além de uma aventura que me dei conta ser a pura verdade...
A Rose era uma mulher livre que só se prendia quando estava amarrada na cama. Ela argumentou que eu acabara de sair de um relacionamento muito sério e se dizia jovem demais para deixar de usufruir o que a vida podia lhe dar de melhor.
Minha fantasia produziu o efeito desejado e ela confessou que aproveitou cada momento como se fosse o ultimo, mas havia outras a buscar das quais eu não fazia parte.
Fiquei com as lembranças de um verão inesquecível, tanto que anos depois me restam palavras pra escrever sobre a Rose e minhas fantasias de bondage.
Nunca mais soube nada dela...

3 comentários:

  1. E o melhor de tudo isso foi a saudade que ficou.
    Deu água na boca...(rs)!!!

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  2. Adorei o seu texto de hoje. Estou escrevendo um conto sobre bondage! E com seu blog estou aprendo muito! Beijos carinhosos
    Fabby Lima

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  3. Precioso texto Antonio. La verdad es que me has puesto la piel erizada.

    Que bueno es recordar momentos así, momentos que perdura a través del tiempo, seguro que ella también lo recordará, con cariño y nostalgia.

    Eres especial, al menos para ti.

    Reconozco que me ha entrado una cierta envida "sana", al leerte

    Un beso

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