quinta-feira, 20 de agosto de 2009

No Elevador


Rodrigo era alucinado por cenas perigosas. Seu sonho era viver no fio da navalha, inventava as transas mais absurdas e sonhava um dia realizar suas fantasias.
Foi apresentado ao mundo fetichista por um amigo e logo se declarou um switcher, tinha atração pelas duas faces da moeda.
Num dos encontros conheceu uma dominadora muito louca que ao saber de seus devaneios achou o máximo, passando a contar os dias para viver uma nova aventura.
Aos poucos foram criando sua lenda e toda vez que se encontravam faziam planos que nunca chegavam a se tornar realidade.
Um dia voltando de uma noitada com os amigos depararam com um prédio em reforma numa rua pouco iluminada no Centro da Cidade. Trocaram olhares libidinosos e seus pensamentos entraram imediatamente em sintonia. Tentaram a porta e não foi preciso fazer força porque nem tranca havia. Se embrenharam na escuridão e só a chama do isqueiro iluminava seus passos.
Entre entulhos e restos de fios descobriram um elevador antigo, de porta pantográfica enferrujada, coberto de poeira por todos os lados. O lugar perfeito, a aventura sem limites no escuro sem saber se alguém viria para estragar a festa.
Tomaram coragem e resolveram tirar o fetiche da imaginação.
Ela atirou-lhe contra a parede suja, colocou-o de costas, tirou-lhe o cinto, suas calças caíram e com um violento tapa mostrou quem iria comandar a cena.
Catou pedaços de fios elétricos espalhados pelo chão e amarrou-lhe as mãos para o alto no que havia sobrado da porta em estilo sanfona, usou a gravata como mordaça e o fez implorar com gemidos abafados por sua mão forte.
Usou-o como seu objeto, o fez de gato e sapato, Rodrigo tremeu na base sem precisar pedir nada, cada passo que seguia era a realização plena de sua fantasia. Ela fez florescer todo seu instinto dominante e o invadiu com seus dedos antes de explodirem num gozo profundo, duradouro e indecente.

Vestiram-se depressa quando escutaram ruídos de alguém, talvez atraído pela volúpia dos gemidos e das ordens humilhantes em voz firme e tom elevado. Escaparam como crianças arteiras com um sorriso maroto na face, sorrindo do “crime” cometido com requintes de crueldade.
A partir daquele dia nasceu uma paixão desenfreada e Rodrigo e Elena nunca mais se separaram. Tentaram outras aventuras perigosas em outros lugares, porém foi impossível reviver aquela noite que permanece em suas lembranças como se fosse à única, um começo de tudo.
Hoje, casados e felizes, esperam pelo segundo filho vivendo uma união estável e tranqüila, entretanto, sem deixar de realizar suas fantasias fetichistas.
Rodrigo não vive mais no fio da navalha e Elena domina e é dominada com naturalidade, criaram uma mística com ritos próprios e até arriscam fantasias mais ousadas com terceiras pessoas bem longe de casa.
Todas as vezes que a vida me leva a Buenos Aires faço uma visita a meus dois amigos, leitores assíduos aqui deste Blog, de quem ouço grandes histórias e a quem dedico estas linhas, mesmo em Português.

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