quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Valhacouto de Patifaria


Esparramado no sofá da sala depois de se encharcar de cerveja num fim de tarde de Sábado, o cidadão viu a mulher vestida de preto, meias de seda, maquilagem reforçada e soltou o verbo: “Toda enfeitada pra ir naquele valhacouto de patifaria!”.
Ela nem se fez de rogada, ajeitou o vestido, deu o último toque no cabelo e saiu porta a fora sem se importar com os mesmos comentários mesquinhos de sempre, afinal, o que restava do casamento eram aparências.
Mas o clima de fim de festa nada tinha a ver com os últimos acontecimentos quando ela decidiu tomar uma atitude e viver sua vida. A submissão social, a humilhação diária vivida com dificuldade ao chegar do trabalho e ter que dividir as despesas da casa com um sujeito que a tinha como um pingüim de geladeira, como cozinheira e arrumadeira, companheira para lhe ajudar a vomitar a bebida misturada a torresmos que ele trazia de qualquer birosca maldita.
Cansada de sentar num canto da sala e sonhar com a vida das atrizes de novela, ela comprou um computador a prestação e resolveu se aventurar pela internet em busca de uma vida divida com o monitor. Escondida entre o sonho e a realidade usava apelidos provocantes e se sentia jovem, atraente e desejada, mesmo que só lhe servisse para afagar suas noites solitárias.
Um dia ele chegou estranho e ao vê-la de conversas na internet desferiu-lhe um tapa na cara, chamou-a de vagabunda e escarrou em suas costas. Ela se afogou num pranto incontido e jurou que nunca mais viveria aquela vida.
Abandonou o traste ainda que debaixo do mesmo teto e prometeu jogar seu nome na lama.
Arquitetou asneiras, pensou na mais cruel das vinganças e foi salva do precipício por uma amiga virtual que lhe abriu um jogo limpo, com novos horizontes.
Conheceu o fetiche.

Articulou-se, era inteligente, leu as liturgias e se viu numa densa encruzilhada quando deparou com submissão. Imaginou-se vivendo seu próprio drama, mas logo percebeu que nada era a mesma coisa e havia diferenças limítrofes entre sua vida desgraçada nas mãos de um cretino e sua entrega a um “Dom” que lhe desse o devido respeito.
Pensou em pertencer ao mundo das dominadoras, extravasar suas angustias nas costas do primeiro submisso ordinário que cruzasse seu caminho, mas ponderou novamente entre as duas vidas e percebeu que não podia entrar num mundo que se abria trazendo seus traumas e sua derrota.
Como tinha a veia submissa resumiu sua procura e hoje pertence a alguém que sabe de seus problemas, divide seus medos e acredita na química alcançada através da cumplicidade. Os tapas não significam ofensas, são apenas parte de um castelo que estão construindo juntos para quem sabe selar de vez o destino qualquer dia desses.
O mundo estúpido e ignorante que ela hoje deixa pra trás de maneira soberba, é parte de um passado sem volta, sepultando agressões e desrespeito que uma dama jamais poderia sofrer.
Ainda no mesmo sofá, ele hoje conta as horas para que ela chegue em casa e jura desesperado nunca mais sucumbir a bebida e ao destempero.
Sem esconder de onde volta, ela conta os dias que lhe separam de uma vida nova, e então de uma vez por todas ir embora e não ter que lembrar daquelas noites de pesadelo...


UM CARINHO

Hoje recebi um premio.
De alguém que eu muito admiro e respeito. De uma pessoa que aprendi a gostar apesar da distancia, que de uma maneira sincera escolhe esse blog como um dos melhores e me entrega um selo chamado de BLOG DE OURO.
A você PaSioN e todos os amigos da Espanha, meu muito obrigado pelo carinho e admiração.

3 comentários:

  1. Bravo!
    Comparação oportuna e inteligente sobre submissão.
    Para os que imaginam a mulher submissa vivendo seus fetiches da mesma forma que aturam vidas sociais como capacho a matéria é um exemplo perfeito e brilhante.
    Mais uma vez você se superou ACM!
    Agora é ir em busca do Premio de Platina...
    Se eu puder votar...
    Beijos

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  2. um blog de ouro feito por um irmão de ouro.
    Parabéns meu velho.

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  3. Lindissimo o texto parabéns !!
    Congratulações pelo dourado reconhecimento.
    Bjkas

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