segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Daquilo que eu quero


Havia há alguns anos atrás um provedor de internet e nele umas salas de bate-papo bem interessantes. Quem ainda se lembra do Mandic? Pois é, coisa de dez anos atrás mais ou menos numa daquelas salas de fetiche conheci muita gente bacana e que me deu a possibilidade de encontrar outras pessoas legais, as quais travo certa relação até os dias de hoje. O pessoal (a grande maioria de São Paulo) costumava se reunir num bar chamado América lá pelos lados da Alameda Santos (quem é de São Paulo que me ajude porque nem sei se ainda está no mesmo lugar...). Bom, conheci na sala de bate-papo uma pessoa bem especial, Mônica, seu nome verdadeiro, uma paulista com ares nipônicos, publicitária, excelente nível cultural e de relacionamento fácil. A coisa rolou pelo computador e no primeiro encontro no América nos conhecemos ao vivo (face to face). Ela tinha idéias submissas, falava em bondage e muita coisa em comum nas conversas que iam e vinham atrás de taças de vinho. Me contava algumas histórias que nada tinham de ficção e traziam um enredo bem desenvolvido por alguém que se dizia iniciante nas teias do fetiche, mostrava segurança ao falar no que seus mestres lhe haviam ensinado, parecia sempre ligada nas coisas que aconteciam ao redor e, reluzia um olhar profundo que me dava a confiança de gozar de sua amizade e confidencia a todo instante. Lá pelo terceiro ou quarto encontro acabamos por nos envolver o que já era aposta de todos que estavam nos observando. É ilógico pensar que de um encontro de fetichistas não saia um envolvimento sem nenhuma prática, e, portanto, dessa evolução anunciada começaram a brotar alguns frutos e fui parar dentro de uma relação afetiva. Naquele momento garanto que não era aquilo que eu queria e tão pouco imaginava, mas os dias foram sucedendo e o compromisso ficou evidente a tal ponto das conversas telefônicas tornarem-se obrigatórias pelo menos duas vezes ao dia. No começo passava-lhe tarefas por email (porque segundo sua sugestão deveria haver dominação em todos os sentidos) e posava como seu mestre aos olhos e conhecimento de todos que seguiam freqüentando a sala de bate-papo. Ela mandava relatos dos nossos momentos íntimos e não satisfeita, contava aos amigos nossos mais tórridos encontros o que me causou uma irritação tremenda. Desculpou-se, passou a guardar nossos encontros a sete chaves, mas exigia demais a cada nova viagem que eu fazia nos finais de semana que se tornavam cada vez mais corriqueiros, até que em dado momento me peguei perguntando quem comandava aquela relação. Descobri então que ela dava as cartas e me fazia realizar todos os seus desejos e vontades, chegando a sugerir pequenas sessões de espancamento leve o que não me dava prazer. Tentei mudar o curso do rio, mas já era tarde, ela era dona e senhora de todos os momentos que podíamos estar juntos, querendo mais e mais aquilo que lhe dava prazer. Meus argumentos eram ineficazes e sua vontade cada vez mais soberana tentando tornar-me dependente daquela relação que havia começado comigo no controle. Pela primeira vez experimentava ser dominado mesmo sendo eu o mestre, sentia na pele o que sábias Rainhas me falavam de suas relações com seus escravos, quando perdiam o controle sobre suas vontades no momento em que realizavam seus desejos de forma desmedida. Meus nós antes eficientes e cheios de arte, eram meros instrumentos imobilizadores para que ela pudesse na condição de dominada impor suas vontades através de pequenos castigos que aos poucos ficavam mais fortes a ponto de me fazer perder o interesse naquela mulher bela e fascinante que me parecia caída do céu. Pensei em desistir aos poucos, achei que seria importante preservar seu fetiche em detrimento do meu, mas resolvi assumir a decisão de uma vez, levar a culpa e sair à francesa. Alguns amigos entenderam a minha posição, outros me entreolharam esquisito e Mônica, nunca mais a vi. Fica a pergunta: até que ponto quem domina deve satisfazer as vontades de quem se submete?

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso mesmo o que acontece.De repente viramos "escravos" dos desejos do outro.Os escravos com "cardápio" agem exatamente assim.Procuram alguém que venham a satisfazer os desejos DELES. Há Dominadoras inexperientes que procuram "agradá-los" e, muito tarde, vêm a descobrir que estão "servindo" ao escravo, e não o contrário.Checar fantasias, entrar em sintonia é uma coisa. Realizar,somente,os desejos do outro é OBEDECER.