
Tem coisas que acontecem na vida da gente que não damos conta, mas quando tempos depois somos lembrados, muitas vezes vem à certeza do dever cumprido, de ter feito o melhor, uma mescla de orgulho e prazer. Se existe uma pessoa a qual respeito profundamente no mundo bondage, essa pessoa chama-se Attila Eitzel, não só pelo que representa na cena nacional, mas por sua simpatia e humildade. Sim, acredite, até os grandes mestres devem ser humildes porque a humildade é uma virtude suprema de um ser humano. Esse senhor dos grandes nós, tem a capacidade ímpar de criar inimagináveis desenhos e trata o shibari com a intimidade que os grandes artífices dedicam à sua obra.
Há anos percorrendo o caminho, Attila me fez lembrar que aprendeu os primeiros passos e imaginou os nós pela primeira vez num workshop ministrado por mim na antiga livraria futuro infinito de São Paulo. Me conta que tomou a lição naquela tarde e que até ali, fazia os nós com a inconseqüência dos principiantes e não tinha idéia de como era importante tratar bondage como uma arte. Sentados numa mesa sábado passado no Dominna, apreciamos muita gente nova dar as caras, apresentar cenas impecáveis. Entre copos de vinho chegamos à conclusão de que naquele planeta nós éramos os Dinossauros. Passa um filme estranho na cabeça ao saber que o tempo passou, mas da mesma forma temos a impressão de que esse tempo foi bom demais, porque nos fez mais experientes e com a capacidade de enxergar quem serão os herdeiros desse fardo, que um dia como nós sentarão numa mesa e terão a lucidez que hoje nos pertence de descobrir entre tantos seus verdadeiros sucessores.
Falar aqui sobre o que representa Attila Eitzel no desenvolvimento de bondage e shibari no Brasil é chover no molhado, é negar o próprio discernimento. Nesses anos, Attila adquiriu a cultura necessária para incrementar a sua capacidade de criação, enfrentou críticas, lidou bem com elas e fez tudo isso virar uma grande lição. Meu caro Attila, somente os idiotas sentem-se ultrapassados, porque mesmo que exímios praticantes apareçam, tenha a absoluta certeza de que eles um dia aprenderam conosco e se hoje sabem muito bem cada passo a ser dado, é porque um dia caminhamos para que eles estivessem aqui. Você é como um ídolo que tem lugar cativo na calçada da fama do mundo do fetiche, portanto, esmorecer agora é deixar a alma empobrecida, é deixar que escorra através dos seus dedos uma coisa que é sua e que ninguém lhe pode tirar.
Jamais volte a falar em abandono (pelo menos na minha frente!) porque quem lhe conhece e teve o prazer dessa convivência, jamais lhe abandonará. Grandes mestres têm seu lugar marcado e devem administrar o tempo junto com a sabedoria. Seus nós continuam firmes assim como você (vide seu trabalho no ultimo sábado) e saiba que pra mim foi uma honra começar um trabalho terminado pelo meu amigo e parceiro. Não importa se seus conceitos mudaram e o que era delicioso tornou-se monótono, porque em qualquer lugar a sua arte é singular e sua assinatura só é vista por quem conhece a fundo o assunto. Queria que você soubesse que cada palavra aqui tem a verdade entre cada ponto e vírgula e que qualquer elogio não é exacerbado ou inconseqüente, porque eles são pequenos capítulos de uma longa história que algumas vezes, por obra e graça do destino, tivemos a sorte de escrever juntos. Assim como os Dinossauros, sua arte jamais haverá de morrer.
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