terça-feira, 29 de março de 2011

Opções e Escolhas


Um dia, ainda menino, sonhei com a colega do colégio sendo seqüestrada por dois mascarados.
Pensei em ser seu herói, libertá-la dos raptores, mas depois analisei com calma e achei melhor ser um dos mascarados e no fim das contas eu já nem sabia ao certo onde estar naquele delírio. A única certeza era de que aquela menina de cabelos longos que sentava do lado esquerdo da sala estaria em apuros...
O tempo avançou e com a maturidade vieram os detalhes. E esses detalhes me faziam perder o sono e traziam o apavoramento de ser diferente dos demais, que contrastava com o êxtase de dormir e acordar com o Zé Mané a postos lá embaixo do calção sem imaginar as lindas bundas que a praia mostrava, só pensando nas mulheres amarradas dos filmes de TV.
A primeira providencia que se pensa é sempre exorcizar o fantasma, tirar o encosto. Porque ninguém quer ser o estranho no ninho e a roda de amigos não perdoa deslizes. A um passo de me tornar um Robinson Crusoé dentro da minha ilha solitária era chegada a hora de fazer uma escolha. Ainda que ficasse guardada, pra mim mesmo, mas não havia outra alternativa.
Onde achar literatura? Como saber se aquilo que te incendeia as entranhas também acontece lá fora? Há alguém nesse mundo como você?
Varri as enciclopédias em busca de uma única palavra: fetiche. Isso após uma longa luta pra descobrir o que era o fetiche. Hoje é simples, basta apertar o botão de busca do Google, mas estamos falando de mil novecentos e lá atrás...
Os estudos me mostraram, enfim, o meu mundo e por conseqüência me apresentaram a outros mundos. Então você descobre que existem combinações possíveis de serem encaixadas vindas de segmentos fetichistas diferentes, e por isso, um leque de novas escolhas aparece à frente. É hora de mais uma decisão: descobrir coisas novas.
A realidade, porém, é outra.
Ninguém pra conversar, pra dividir. As namoradas vão e vêm e se falta coragem de dizer aos amigos a confissão trava na hora de dizer a menina ao lado que você é o Dr. Jekyll, mas lá na frente ela irá se encontrar com Mr. Hyde. Os relacionamentos são efêmeros, transitórios e se você estiver interessado na pessoa por outro motivo ou razão, a culpa é iminente.
Sem mencionar o que sente os anos se arrastam e a opção por uma vida feliz se transforma num martírio em que uma mentira consciente abala qualquer alicerce. Não é difícil enxergar num horizonte próximo o final anunciado. Triste sina, doce ilusão.
Procurar um analista, um médico? Não, minha loucura é sadia, pois ela apenas envereda por caminhos diferentes, que não são tortos. Meu destino foi traçado quando via a menina da escola e tinha meus próprios planos e pra isso não existe remédio.
Nesse instante da vida alguns fetichistas desistem e deixam os sonhos morrer.
Abafam o caso da maneira mais óbvia sepultando o desejo em nome da razão. Apostam numa vida dupla, vivem literalmente o papel do médico e o mostro na vida real. E não há crítica, porque já tive meus dias de viver os dois lados da moeda sem a menor cerimônia. Minhas histórias, assim como a de muitos outros tiveram inicio com as meninas de vida horizontal. Algumas contei aqui e aquelas que por um acaso não mencionei as guardo com o devido carinho.

Portanto, com ou sem informação a manifestação fetichista por via-de-regra carrega um complexo de culpa. Em lugares onde a cultura e os padrões sociais rejeitam alguns conceitos tudo é mais complexo, e embora a descoberta nos dias de hoje esteja ao alcance dos olhos e fácil de ser decifrada, assumir determinadas atitudes tem um preço alto, principalmente porque o prazer não é hereditário o que obriga ao praticante a busca de auxílio fora de seu nicho.



Ainda que tenha feito as minhas escolhas bem no começo a minha opção demorou bastante e em alguns casos ela fica escondida pra sempre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola Lindo ACM

É muito difícil fazer escolhas que saem do considerado "normal", por mais que se deseje, mais difícil ainda assumir isso.
Há muito tempo passei da fase de levantar bandeira e ir conttra aquilo que a sociedade espera de mim.
Optei por viver minhas fantasias e desejos de forma a me darem prazer, sem que para isso eu precise escrever na testa ou anunciar no jornal. Vou descobrindo novas fantasias e novos desejos a cada dia e procuro vivê-los da melhor forma possível.
Sempre em busca de prazer, não faço nada para ser aceita neste ou naquele nicho, apenas vivo cada desejo de cada vez.

beijos

ACM disse...

Querida Angelike

O que eu quis passar com a postagem foi justamente o periodo em que temos que decidir, optar, seguir ou deixar pra trás.

Muitas vezes levantar bandeiras é radical, chega a ser desaconselhável, e como você disse muito bem não há necessidade de impor aceitação à normas estabelecidas. Mas em alguns casos, como o meu e por pura opção, não havia outro caminho.

O melhor é saber o que se quer.
Não desistir do sonho e tirar muito proveito de tudo.

Obrigado por vir

Um Beijo
ACM :)