
Parecia que um trator lhe esmagara as costas. Doía tudo.
Uma bela espreguiçada, o olhar que percorreu o teto espelhado até notar aquele corpo perfeito ao seu lado. Esfregou os olhos e relembrou cada minuto de uma noite longa.
Fazia tempo, muito tempo.
Deixar o fetiche guardado e esquecido causa angústia que se transforma em dores.
Foi como ver a ferrugem ir embora aos poucos. Mas de onde vinham as dores? O fetiche era bondage e ela tinha sido amarrada a noite toda... E de onde vinham as dores?
Ela olhou de banda, respirou forte e sorriu. Naquele momento o prazer foi tamanho que doses de endorfina liberaram metade das dores.
Aquela garotinha com cara e olhar de mulher vinte anos mais jovem era a causa das dores. Destravou todas as energias e liberou os músculos aprisionados pelo tempo sem prática. Uma fêmea fetichista de coração e comportamento baunilha. Vai entender...
- Posso tirar uma foto tua acordando? – foi direto.
- Não, tenho vergonha. Deixa eu me ajeitar – ela disse.
Ducha, beijos e sorrisos. A felicidade morava ali.
Mas pairava a dúvida cruel. Ele tinha que colher impressões, afinal, o que ela tinha achado daquilo tudo? Um cara doidão, maduro, experiente e com um mundo totalmente oposto ao que ela entendia como prazer. Era preciso saber.
Pensou: “melhor perguntar. Ela é só sorrisos e não estranhou a manhã seguinte. Tocar no assunto ou cagar e andar?”
- Quer almoçar comigo? Hoje é Sábado – foi à única coisa que conseguiu falar.
- Tenho que ir em casa, trocar de roupa, colocar algo mais dia. Dá pra ser?
Sem jeito pra tocar no assunto do fetiche tocou-lhe as marcas que as tiras de roupão tinham deixado, e embora quase imperceptíveis elas ainda estavam por lá como um troféu conquistado depois de tanto esperar.
Ela notou que ele olhava as marquinhas e apenas sorriu. Continuou tomando o café.
Pensou pela segunda vez: “quer saber? Deixa essa porra pra lá. Melhor não dizer nada e deixar o barco seguir seu rumo.”
A ansiedade trouxe de volta as dores nas costas. Insinuou uma tentativa de arrastá-la pra cama outra vez e ela pediu pra ir embora. Encucou. Mas pensando bem, eram quase onze da manhã e se iam almoçar era hora mesmo de deixar a maloca e seguir em frente.
- Tá sentindo alguma coisa? – ela notou que as costas o incomodavam.
- Nada, só uma dorzinha de nada nas costas. Estive gripado semana passada. Te disse, lembra? E acho que por ter ficado dois dias deitado meu colchão me pregou uma peça...
Começaram a se vestir, mas não desgrudavam os olhos um do outro e muito menos perderam o sorriso constante. Ele terminou primeiro, acendeu um cigarro e ficou estático admirando cada detalhe de como ela se aprontava pra tomar o rumo de casa. Martelava a cabeça a vontade de tocar no assunto, falar do fetiche improvisado, argumentar que podia ser ainda melhor, falar de técnicas, experiências, qualquer coisa que pudesse ajudar a manter a chama acesa e dar a certeza de que era possível começar tudo outra vez.
De repente ela deu falta do relógio. Procurou aqui e ali e nada.
Num segundo ele lembrou que lhe havia tirado o relógio do pulso para evitar que a tira pudesse machucá-la. Correu até a cama, revirou o lençol, travesseiros e encontrou o que ela já aflita buscava.

Novamente as marquinhas deram o ar de sua graça. Alisou-as com carinho e outra vez ela sorriu. Naquele instante viu que não tinha como ser diferente e perguntou:
- A cordinha machucou você?
Ela lhe olhou séria e disse:
- Vou contar pra minha mãe!
Sorriram e foram embora para viver felizes até hoje...
13 comentários:
Olá ACM
Ah, que lindoooo! Me senti lendo um conto de fadas fetichista rsrs
Você tem o poder de conduzir muito bem as histórias que conta e nos surpreender com os caminhos do fetiche.
Miauamei!
Um bom dia a ti :D
Miaubeijos =^.^=
Ai que delicia, adorei ,não tem como não projetar e imaginar aqui o que ela estaria pensando rs, beijos
Nós adoramos BDSM!!! Esse blog é demais!
{princess kitty}龍戦士
Seu amigo agradece de coração as suas palavras. E vida longa ao fetiche!
Beijos
ACM :)
princesa do SenhorWZ®
Olha, muito bom te ver por aqui.
Mas deixa eu te confessar uma coisa: isso tudo foi real!
E um daqueles "segredos de Estado".
Beijos
ACM :)
amigoo querido,
adorei seu conto-relato, nossa tbm viajei nas lembranças, ahhh delicia vivenciarmos nossos desejos..tbm como vc : amo muito tudo isso!!....
espero que essa sensação lhe acompenhe por mais alguns bons anos, acredite a dor some rapidinho...*pisc
bjs de boa sorte
{ternura}_L.B.
Ternurinha do LB
Pois é, de vez em quando bate um negócio esquisito e a cabeça apronta algumas boas.
Mas tava doendo sim e era o resquício de uma gripe daquelas de moer...
Beijos
ACM :)
Boa noite Nobre Senhor,
Linda postagem.
Aaah uma cordinha, era quase tudo o que eu queria...
Adorei, beijos de uma Pequena Dama, Lollis Riviera
Lollis, devo ter mais ou menos uns 100 kilometros de cordas aqui.
Serve?
Beijos
ACM :)
Só as cordas ... não.
Serve se o dono vier junto e fizer o serviço completo.
;)
Lollis, acho que amanha cedo vou planejar melhor meu final de semana...
Beijos :-)
Planeje... eu deixo, rs. =)
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