
Um amigo da terra dos Beatles gosta de bondage.
Até aí nada de mais. Normalmente meus parceiros têm gostos parecidos com os meus. Só que esse cidadão excêntrico e pra lá de moralista encheu a boca – ou melhor, a tela – pra dizer: não admito sexo pago de maneira nenhuma!
“Mas nem se rolar um bom bondage?” – retruquei. E o cara fincou pé e ainda ficou meio atravessado comigo como se eu estivesse tentando convencê-lo do contrário. A rigor, a conversa sequer passava perto de convicções, afinal, estávamos falando de um amigo comum do outro lado do Atlântico, da terra do Tio Sam, que se confessou um adepto de programas com mulheres de vida horizontal para práticas fetichistas.
A tática do americano é simples: agenda o programa, amarra as meninas, fotografa e leva o material pra sua coleção. Algumas, devidamente autorizadas, acabam na sua página do Fetlife.
O impressionante é que o sujeito deixou escapar que comia a mulher do vizinho e pra conseguir tamanha proeza ele entregava umas uvas do seu quintal. A chamada taxa do sexo pago por meio de uvas frescas e maduras é conversa de bêbados? Afinal, para este inglês repleto de conceitos e virtudes o que vale é o vil metal, grana, ou dê o nome que quiser? Uvas para este indivíduo soam como “um agrado” jamais como propina.
Mas ainda assim gosto muito do cara e nossa amizade, ainda que virtual, já ultrapassa os sete anos. Costumo aceitar muita coisa dos meus amigos, ou não os chamaria assim, mas hipocrisia desmedida não dá brother, soa como achar que só a minha bunda que suja se eu sentar no lodo.
Tem certas coisas que alcançam uma melhor sonoridade quando ditas com sinceridade, e às vezes admitir certas atitudes politicamente incorretas é bem melhor que posar como Clark Kent e virar o Super-homem de frente pra uma janela. O cara é ou não é. Porque esse negócio de fazer pose para os amigos como se fosse um paladino da moral e bons costumes é papo pra boi dormir e o mundo está repleto dessas criaturas.
Sexo pago é simples: tem hora pra começar e pra acabar. Lavou ta novo, sem problemas e se rolar uma próxima começa tudo outra vez. Não há cobranças – fora o cachê, é claro – e tão pouco crises de ciúmes ou telefonema no dia seguinte. Existem pessoas que topam, até preferem, justamente em se tratando de arremedos fetichistas quando há o risco da exposição.
O cara pode não revelar suas preferências. Pode não espalhar aos quatro cantos que liga pra uma cafifa e descola uma loura montada num salto alto pra exercer seu direito líquido e certo de realizar uma bela trepada com bondage, mas não é legal usar de tal artifício para depois fazer pose de santo e afirmar: comigo não rola, jamais paguei por sexo!
A fábula da uva contada por meu amigo Inglês revela o resultado de uma equação simples: é dando que se recebe. Só que o justiceiro da terra da Rainha se acha acima do bem e do mal ao utilizar de um artifício chantagista, ou seja, colocando uvas no cesto da vizinha no claro sentido de convencê-la a trair o marido para participar de uma orgia fetichista com ele.
Estamos cansados de ver falsos moralistas pregando os bons costumes aos outros enquanto na surdina, na calada da noite, praticam atos horrendos que comparados a simples expressões fetichistas seriam impublicáveis. E tudo começa numa simples conversa quando fica evidente a visão distorcida dos fatos.

Neste caso, uvas e grana têm um mesmo sentido e igual serventia.
Concordam?
2 comentários:
concordo sim e tem mais, se eu pagar pra ele e vai e come. hipocrisia do cara.
Engraçado o conceito que cada pessoa tem sobre a moral. Dizer que é imoral uma pessoa pagar por sexo enquanto é moral transar com a mulher do vizinho é no mínimo estranho para mim.
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